quarta-feira, 30 de agosto de 2017

REENCONTROS

Quem reencontro
em anos ausentes

quem reencontro
em caminhos presentes

quem não reconheço
em passagens perenes

quem não me reconhece
em tempos de oferenda.

(Pedro Du Bois, inédito)


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

FRAGMENTOS

Retenho o que posso
                     fragmentos

o perdido olhar da mulher que passa
cigarro aceso ao descer do ônibus

ansiedade urbana
recolhida entre praças
                         ruas
            calçadas

desfragmento o olhar da mulher
                          que passa

                          apagado o cigarro
                          resta a fumaça.

(Pedro Du Bois, inédito)

TriploV Blog

Orgulho / Pride, em:
https://triplovblog.wordpress.com/2017/08/22/poema-36/

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

ÁGUAS

A água conserva
o que perdemos

o caldo original
a originalidade da seiva
o sangue que circulou
em nosso corpo

a água mantém
o que da terra exaure
renovado em chuvas
sobre nossas cabeças.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 19 de agosto de 2017

SOBRESSALTO

Vivo sobressaltado
espiando o tempo
margeado pelo muro
de escalada calçada
na imperiosa ótica
de que tudo faz mal

mal nenhum
mal-me-quer
mal consigo sair
em desabalada carreira
de fumaça e fogo

de todos os estorvos
e os corvos em roda

no tonto prazer
de tanto prazer
em prazeroso
fugir.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O QUE FOI

Não são as paredes
                  portas fechadas
                  caminhos obstruídos
                  pedras e paus

        barreiras sociais
                       psicológicas
                       psicopatológicas

a falta de preparo físico
                             técnico
                             tecnológico

o que não escrevo
como não me conservo
desde quando não me comunico

(apenas isso)

a raiva carregada
o desprezo entrevisto
a reprovação
   na última prova de vida.

(Pedro Du Bois, inédito)


terça-feira, 15 de agosto de 2017

LUGARES

Em tantos filmes gostaríamos de estar
ao lado do mocinho - se bem apessoado
cuidando da mocinha - nos seriados

em tantos romances queríamos estar
entre os protagonistas de capa e espada
figurantes nas questões de estado

em tantas conversas participar
junto aos velhos que se repetem
em mulheres filhos e empregados

em outras questões ter lugar
nos olhos do dragão: mirar a trajetória
do fogo e no pulo do leão sobre a presa

nos lugares em que não estivemos
entre o calor do colo que não reconhecemos
nas brasas sobre o chão em que nos queimamos.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 13 de agosto de 2017

ONDE

Em vão procuro teu corpo
deserta cama de alinhados lençóis

em vão espero teu sinal
inaudível sopro de outra boca

em vão espelho o olhar
inalcançável corpo em queda

em vão sei não te encontrar
onde repousam os pensamentos

nos desvãos da memória.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

INDICAÇÕES

A seta indica
o comportado caminho

(até certo ponto)

que não prejudica
o caminhar

a seta não indica
pontos inconclusos
em passagens obtusas

nem interrupções da passagem
em corações quebrados
      orgulhos feridos
      ódio mortal.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

FEIÇÕES

O trabalho
de cobrir o corpo
sem espiar o rosto

sem a visão
das feições da morte

a morte ameniza as feições
do que foi o rosto

corpo inerte na calçada: jornais
                     cobrem as feições
                     que não existem mais.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 5 de agosto de 2017

IMAGENS

O espelho translúcido
devolve convexas
imagens fragmentadas
do corpo em comparações

não se enxerga como aquele
que acompanha seu caminho
                 de longo trajeto

delineia o estranho vulto
fixado em olhos sobre o corpo
que poderia ser seu.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

RETER

o que resta

memória

quebra-cabeça
disposto em cacos

mosaicos datados
no esquecimento
de eras imemoriais

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 1 de agosto de 2017

DÚVIDAS

Buscamos sentidos
desencavamos fósseis
desarrumamos estantes
espiamos cantos escuros

precisamos do sentido
em respostas
provas
evidências
(meras) conjecturas

na dúvida perenizamos o medo
deixado pelos falsos profetas.

(Pedro Du Bois, inédito)