sábado, 6 de dezembro de 2014

TOPO


O topo montanhoso descortina onde a vista alcança
nem mais milímetros onde não se ouvem canções
não se dançam músicas no efeito de encantar
corações na respiração ofegante do ar rarefeito
que leva o alpinista apoiar o corpo em mãos frias
para recuperar o fôlego da escalada

o topo não acrescenta além de ser o topo
no mundo das nossas terras e contar aos amigos
em alegres noitadas e em livros onde defeitos
nos equipamentos são valorizados
e o trabalho dos guias esquecido

o topo desencadeia a volta em passos firmes
no retrocesso necessário ao cumprimento
da última etapa de retornar ao convívio
dos que lhe são caros em amores e fadigas
nas intrigas familiares de quererem
partilhar sua alegria de estar em casa

o topo da casa é a cumeeira
de onde pássaros observam
o cantar do galo nas auroras
e se defendem em gritos e gorjeios
de sincopados sons no estamos aqui
e temos a melhor visão dos predadores
de quem fugirão no tempo e na hora

o topo da casa é o centro
onde se iludem os moradores
fossem estrelas sem brilho
cascalho desprezado
de menores sentimentos
espelhados em vidraças
embaçadas pela poeira
com que os ventos fecham
os caminhos ao evitar
que homens se aventurem
em cumes cimos e ao topo

o topo é resultado
maltratado da ansiedade
imposta no ritmo suficiente
ao fazer de conta que subir a montanha
centraliza a imortalidade na neve
em camadas enquanto a Terra segue
ciclos indevassáveis ao conhecimento

o topo se reveste de estreitos caminhos
nos momentos em que a desistência se apresenta
em temores e orações primárias de todos os medos

o topo é o reverso da base na acomodação
delicada com que o planeta permite
que vivamos enquanto tentamos topos
cumes e cimos de barreiras inconsequentes

o topo atravessa o poente e descamba em ocasos
descabidos no nascer e morrer dos dias

o topo se registra em mapas geograficamente
desenhados de linhas confusas e parafusos
colocados tal pregos em cada fenda permitida

o topo acima e abaixo remete o corpo
ao abismo no retirar a vida em outros ares.

(Pedro Du Bois, inédito)

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