segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

ENTARDECER

Presente ao cair da tarde
                    noite (o pássaro
                              se recolhe
                              em gritos
                              de medo)

              onde me apresento
              em norte (o desnorteado
                             pássaro aninhado)

         e não me aguardo
         no encontro desigual
         entre luz e sombra

(ao pássaro cabe
 recuar e prender
 em galhos
              o ninho).

(Pedro Du Bois, inédito)
                            

sábado, 29 de dezembro de 2012

REVISÃO

Reescrevo a história
em alterados fatos
desabonadores: desligado
o semáforo permite
o entrelaçamento dos carros
abandonados na oxidação
                           atmosférica

         a vida cobra pelo reingresso
         de elementos alegóricos

o caso pelo outro lado
do poliedro: a necessidade da ordem
desarruma o caos desligado
em amanheceres amadurecidos

     revejo a história sob camadas
     arqueológicas: onde e quando
     me desligo das respostas.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

AMANHECER

Amanhece e o desconhecido
rosto resplandece cores esmaecidas

- o amanhecer traz nuances
  inexplicadas e o som
  que acompanha a regra
  dourada dos extremos:

ser o amanhecer no acordado
corpo recém chegado à plenitude
do escopo: corpo descansado
na noite ultrapassada na lucidez
da alma

      - o amanhecer rasga ritmos
        à esmo: todos os tiros
         são bem vindos
         desde que errôneos.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 22 de dezembro de 2012

INÉDITA

Faz a música
         (inédita)
         retirada da vida
         na agitação
         de hoje em dia

faz a música
        (inédita)
        renovada
        na agitação
        de hoje em dia

faz a música e do ineditismo
retira o eco do diariamente:
        
               o telefone toca a irritação
               de aguardar a chamada

faz a música
        (inédita).

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

CONQUISTAS

Onde a paz aguarda o consenso: reviso a fala
ouvida nos extremos. O discurso guerreia
o anseio e dos lugares
                           longe e perto
o som trombeteia mortes - na evolução
nos fazemos gente - e nos transporta
ao arremedo da tormenta. Atroz: o medo
se faz ciente do engodo e somos atingido
no apogeu do esquecimento - aos mortos
faltam nomes - para onde vamos
                         ao morrermos: a paz
se apresenta em esqueceres
de conquistas e permanências.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

OLHARES

Tópico olhar
no final
da tarde: a utopia
no desencontro
da terra prometida

(onde está nesta hora
 a condição do espaço
 ocupado)

rearrumo a maneira da aceitação
do gesto: nem sempre cabe olhar
e reprovar os encontros

(onde está a hora
 em que o espaço
 se ocupa sem condições)

reflito a utilização da frase
e das palavras retiro
a essência: resta o pouco
utilizado na explosão.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

CICLOS

Reviso os anos civis
e os chamo ciclos
- termos decompostos
  em safras
  e sofreres
acostumados
aos finais: circunspecto
crio em novo ser
o retrocesso.

Anos civis agregam etapas
na inconclusão da prece: exposto
choro no ano e ciclo que os reinicia.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 15 de dezembro de 2012

AVESSOS

Avesso
sonho: o presente se coaduna
no compacto do ano passado
a limpo: recupero a estima
e a jogo à sorte das estrelas
miúdas dos arrependimentos.

Avesso
sono: recolhido na espaçonave
discurso versos no acordar
o espaço e no rarefeito congrego
histórias mal alinhavadas.

Avesso
acordo: no desacordo da forma
rompo o dizer das folhas decaídas
e ao longo da estrada piso sonhos.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

ALMOÇO

Almoço
na salada
o grito
amargo
do vinagre

- sempre há o tempo
  revolto: a eternidade
  em única folha
  de alface.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ÂNGULOS

Curvas anguladas
no vão avistadas: descaminho
crescente com que me acostumo
na vida de sempre: projeto
                        o trajeto
                        na última vista
                             em despedida

- graus
  degradam
  o horizonte -

de repente entre curvas avisto
- além da volta - o retorno
de onde parto ao esconderijo.

(Pedro Du Bois, inédito)
                       

domingo, 9 de dezembro de 2012

ENTREGAS

Do que for a entrega: receba
a sua parte e a abata da conta

no discurso o profeta diz da entrega
do mistério materializado em mitos

a água purificada aflora no terreno
escorreito e lava a honra na execução

na entrega refaz o itinerário: a música
diz em outras bases o mesmo: sofrimento
                                                 dor
                        a irrealização do amor
                        amordaçado em paixões

do resumo da obra decorre o gesto
secreto: ao lado o muro escrito
em rigores vulgares das entrelinhas

a água perambula rios e deságua
na mágoa dos finais infelizes.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

INTOCADO

Ser intocado
em vida rediviva
retorna ao centro
e se desfaz
em promessas

intocado
leva a singeleza
da luz
na curvatura
do horizonte
onde desfeito
em éter
tem o corpo
tocado
no vivenciar
da vida
revisitada.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

RITOS

Ritualizo na barbárie
o mito
e o sacrifício
em meu nome

nome vingado
no grito extremo
do abandono

na ressurreição do corpo
encontro o dogma
que me condena
à eternidade

carne e osso
   putrefato corpo
   que se protege
   diante do ato

anteposto ao dia
anunciado no sacrifício
físico da irrealidade.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

COLOSSO

Ao colosso ofereço a face
humana do medo: sou riso
                          sou gosto
                   sou a educação
          elencada no grotesco

do colosso: a face transparece
o gosto em ser apresentada ao gesto

             enganos se originam
             do que sou

na espera: o colosso se arrepende
e olha a minha face com o desdém
dos ignorados em desgosto.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 1 de dezembro de 2012

RESSURGIR

Condenso as horas em ares decantados
dos espíritos renovadores das paisagens:

     palavras na fortificação da aldeia
     me defendem em asas imaginárias

histórias curtas em repetições
e sérias alegorias
me separam
da escuridão
da alma.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

QUERERES

Querer da vida o filho
negado na reconstrução

querer a promessa estéril
da permanência

do filho: a negação
primeira da escolha

querer da vida o definitivo
escopo elevado ao direito
da seriedade

querer a mesa no difícil almoço
da sobrevivência: a hora
na permanência
do quanto somos
                 aguardados

querer a volta do filho
prodigalizado em vidas
adultas de regressos.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

DESCOBERTAS

Descobertos
    fósseis decifram
caminhos: carinho inexistente
no consciente ganho médio
medido em cavernas
             onde encontrados ossos
             familiares e animalescos

recobertos
     fósseis humanos
reportam ao espaço onde homens
- iguais em genética - passam fome:

             inconscientes e transparentes
             na perda diária das distâncias.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 25 de novembro de 2012

OCASO E NOME

No ocaso do nome repetido
no refrão da música traduzida
no avesso do sentido entrevisto
na delicadeza do carrasco
perguntando entre grades
aos guardados homens
de condenações diversas
na diversidade dos nomes

não o nome do escolhido
para o sacrifício: o ocaso
do nome no tirar o corpo
ao consagrado gesto
das mortes anunciadas

o ocaso precede o nome
no batismo inominável
do trajeto onde permanece
até o carrasco perguntar
com delicadeza apropriada
o nome carregado

do nome o caso retira o gosto
e a propriedade em se dizer
presente: mente ao carrasco
o nome aposto e no ocaso
se encerra inominado.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

TOSCO

Tosco espírito
amaldiçoado no personagem:
           sob o manto semeia
                                tempestades.

Ressoam avisos
inconclusos: a escuridão
esconde a face.

A forma imprecisa do espírito
na descorporificada imagem.

Na sobra
      na dobra
      onde se esconde o tosco
      na reafirmação do mistério.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

AMAR

O verão próximo
                   quente
              e úmido

umidade transportada ao pólen
da flor esquematizada: cripto
corpo oferecido aos deuses

     o verão: aproximo os olhos
     da janela e percebo o calor
     abrasivo da passagem

unidade comportada dos amares
esquematizados em flores colhidas
na paisagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

APATIA

Apática criatura endurecida em barro.
Sobre sua hora são feitas as partes
das saídas: no horizonte anterior
da ultrapassagem sua vontade
escorre o fel de viver em textos
apresentados em retalhos:

sobre a apática criatura refulgem dias
descontados aos deuses perfilados
em homenagem e seus nomes contém
a essência do conhecido no mundo
ilusório em sentidos

ouço sua apatia
   criatura inerte
         no tamborilar dos dedos
         no arrastar da cadeira
         na tosse de reconhecimento

apática criatura desprovida da curiosidade
atávica dos elementos. Barro refeito em
deformações: o saber da inutilidade
nas respostas e o descalabro da busca.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 17 de novembro de 2012

JARDIM

No jardim inexistente
desenho flores ilusórias

deixo-me ficar sob
a sombra das horas

pássaros inconsequentes
esvoaçam meus sentidos

seus gritos realizam
minha devolução ao concreto.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

GRITO

Escuto gritos: crianças
brincam. Gritos são
mensagens de descobertas.

Não há grito na voz que clama
pela minha juventude. Calado
tempo em erros. Arbítrio
em canto de despedida.

Diferenças opostas aos gestos
guardo o grito da mocidade:
            preso no irrisório destino
            afeito ao progresso rejeito
            o som enclausurado
                       dos contratos.

Das crianças mantenho a vontade
em aceitar a ruptura induzida
                nos gritos de liberdade.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

NOME

Sou pedra aposta ao nome
áspero ser gentil
de outono
sério arlequim atravessado
em sonos
ínfima parte decomposta
em tombo
remanescente palavra esquecida
ao instante

carrego o nome apropriado
no caminhar disposto
sobre esta terra:
vias terciárias e o fragor
do vento rola a esfera
enquadrada no átimo
da sobrevivência

externo sentimento recolhido no óbice
trânsfuga da espera realizada em antes
tal pedras afloradas no tanto
das descobertas.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

VIA RÁPIDA


Com alegria, informo que amanhã, dia 10.11, às 16 horas,
estarei lançando meu novo livro, VIA RÁPIDA, na 26ª
Feira do Livro de Passo Fundo:

Ilustrações de Eduardo e Layla Barbosa.
Capa com fragmento de obra de Silvana Oliveira,
Contra-capa de Marco Antônio Damian,
Prefácio de Paulo Monteiro,
Posfácio de Geraldo Fernandes,
4a. capa de Gilberto da Cunha.







segunda-feira, 5 de novembro de 2012

SAIR

De onde saem as razões
do que está escrito:
            sob lençóis repassam
            corpos no despreparo
            do sexo carcomido
            em lamentos impuros

falsa novela
escrita em termos inférteis
onde pássaros se incluem
como crianças:
      sob o brandir das armas
      apagadas luzes civilizatórias
      em propagandas enganam
      dizeres de avessos sabores

na irracionalidade da música
guerreira dos aborígenes:
             sob o rochedo a terra
             se oferta aos espíritos
             em extremos amorosos.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 3 de novembro de 2012

ODISSEIA

Pode ter sua odisseia: repetir
caminhos demonstrados em reportagens
aleatórias de marés não navegadas,
a velha senhora sem humor, o homem
desagregado em razões. Nas mãos
os pães do entendimento, a bebida
entorpecente dos enamorados. O final
feliz da história reescrita: repetir
os versos do poeta sepultado
no mar das ocorrências.

Situado no epicentro da hora
submetida à morte dos sonhos
nos versos recolhidos ao acaso.

Não a odisseia em comentários vazios
nas corridas ao longo do prazo.

Repetido na simplicidade das situações
famosas a odisseia resume os saltos
em que as alturas adormecem o físico
e barreiras são ultrapassadas em medo.

Pode ser a odisseia em metros
percorridos em busca de trabalho.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CANSAÇO

Sou o cansaço
no fundo da consciência

começo a conversa
e retiro a continuação da memória

a desorientação na remessa
ao fundo da consciência

reinicio a conversa
e guardo as palavras

sobre palavras: fecho os olhos
identifico o lugar
                a hora
a angústia da lembrança

no desenlace ocorrido
ao nada refeito
         do cansaço.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

DESCOBRIR

Ter do espírito aventureiro de outrora
a ousadia de voltar ao ponto de partida

sem anúncios publicitários
reportagens em revistas
manchetes em jornais
locutores no noticiário

retornar: simplesmente sentar
à beira d'água e jogar a rede

recolher na rede trançada
                           em nadas
       a ilusão da descoberta.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 28 de outubro de 2012

MARINA

A filha reflete a proximidade: pessoa
              definida desde o nascimento
                     traz seus pais em gestos.

              Contorna na criação o esforço
              e traduz em atos sua liberdade.

              Contém a diversão de quem sabe
              ser a temeridade aliviada das tensões.

                      Reflexo do amor: reflete.

(Pedro Du Bois, inédito)


                      

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

LUÍSA

A pouca idade incentiva a descoberta: mãos
suavizam cordas. O corpo se oferece à água.

Em crescimento adota curiosidades. O previsível
desenha enlaces: age no acordar da coerência.

Olhos afixados em interesses: sabe ser constante.

(Pedro Du Bois, inédito)


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

JÚLIA

         Esguio corpo em crescimento. O sorriso
    presente. Movimentos. Sua argúcia convence
    o interlocutor em danças: baila salões.

          Nada se opõe: nem águas aprofundam
     diferenças. A voz acrescenta o sentido
     das pontes na construção do futuro.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

BREVE ILUSTRAÇÃO SOBRE O (MEU) SENTIMENTO

Fazemos sexo durante o tanto
em que estamos juntos. Olhos nos olhos
nos penetramos. Nossas mãos
seguram a cama.

Somos um e únicos.

Tenho você comigo
na imagem indelével
do passado. Estou
permanentemente em você:
esboço e traço sob a pele.

(Pedro Du Bois, Brevidades, 53; Editora Projeto Passo Fundo, 2012)

domingo, 21 de outubro de 2012

BREVE RELATO SOBRE A (MINHA) NATUREZA

Conhecida na origem
a preocupação se mantém
no estilo
de vida: naturalmente
compelido ao trabalho
salto o adestramento.

Venho como elemento ativo no processo.
Sou ponto e vírgula e descaminhos
tramados na linguagem: significado.

(Pedro Du Bois, Brevidades, 43; Editora Projeto Passo Fundo, 2012)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

BREVE APANHADO SOBRE A (MINHA) LUCIDEZ

Permito-me a lucidez: vejo a árvore e os frutos;
desfaço a cama e guardo as cobertas. Visto na roupa
a imagem trazida no regresso. Da casa retenho
a tinta das paredes; nos vidros da janela vejo
a poeira acumulada. Recorro à figura armazenada
e retiro a essência. A lucidez me repete
fatos intercalados.

Invado o lúdico e me deparo com a reserva
ao conhecimento. Cumprimento a sombra
do que sou e deixo arrolado o tanto procurado.

A lucidez contém luzes enfeitiçadas de verdades.
A lucidez é meu cansaço.

(Pedro Du Bois, Brevidades, 1; Editora Projeto Passo Fundo, 2012)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

REPETIÇÕES

Repito passos sobrepostos
ao inibir o inimigo sobre a revolta

reavisto a mata
     em sua cobertura verde
     da pradaria na solidão das flores
     e águas descendo em riachos

revolvo na terra
pedras na cristalização
do magma transposto aos ares

reparto o espaço inicial da imagem
e me sei parte atômica das lágrimas.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 6 de outubro de 2012

NOMES

Ávido em retornos
   o homem
   sem nome colocado
   chama a si mesmo
   pelo nome aposto
                em vontade

ser oriundo para onde vai
em passos de retorno

      tem o nome carregado
      na voz com que repete
      o som da lembrança.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

ESQUECER

Reviso o vício
subtraio o tempo
divido a dose
     inicial dos dias

a noite
se faz longe.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

OUVIR

Na canção
choro mágoas
desconsideradas

que na música repetem
refrões estéticos
de esquecimentos

no final do canto
o tempo inerente
desfia razões ultrapassadas

ao canto ilusório
do passado e me afasto
                  em silêncio.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 30 de setembro de 2012

A CASA

A casa fecha suas saídas
dentro
        sufoco
na repetição das imagens
         refaço
a ideia do trajeto
          repito
o gesto desamparado
de estar preso

              abro o possível
              e me distancio
              em arcos
                    acessíveis
              ao estar vivo

a casa fechada em saídas
sustenta minha vontade
em repetições.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ESTAR

Perdido em florestas úmidas
de regressos deixo ficar
o tempo desnecessário da angústia
com que amores mal conduzidos
serenam ânimos e desprezam
corpos conhecidos: participo
da hora e na guerra minha mão
defende a honra e a pátria
agradecida retorna em ondas
descumpridas: ingratidão
sobreposta ao ânimo. Naufrago
mares de águas rasas e na claridade
do fundo vejo peixes embora
meu corpo decomposto retorne
à superfície. Refaço o caminho
revisto no interior do nada
de onde retiro o que preciso:
a necessidade embute a saudade
e a revela em murmúrios
de sonhos irrealizáveis.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ESPETÁCULO

Diz da vida
        o espetáculo
apequenado

a vida em subterfúgio
corta a passagem
do espírito incorporado

o peso gravitacional
segura o espetáculo
em curtos saltos
e algumas cambalhotas

ao acrobata cabe
reduzir o atrito

(que)

na fuga o ar
pesa ao contrário.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DOBRAR

A dobra esconde o todo
reduz o gesto no mínimo preenchido

destoa o barulho
na consequência
do feito

dobra o corpo em reverência
ao espírito autoritário dos dias
em que se desdobram ritos
alterados em silêncio
ao longo do caminho.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 22 de setembro de 2012

COMER

Repouso o olhar
na mão que introduz
o pouco

a suficiência da permanência
quase nada do desgosto

agastado tento alcançar
o pulso, em retirada
procuro seguir a ideia
de ir embora

o corpo se debate em grade
jogo a comida fora

faminto me descubro
ignorado sob o pano
escuro dos esconderijos.

(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS, V)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TESE

Apresenta a possibilidade indiciada
de o fato acontecer sem ser ao acaso

no trabalho pesquisa
a ordem natural do ocaso

a pesquisa traduz o fato
em repetições estéreis

na possibilidade concretizada

reduz o fato ao seu significado
e o transforma no objeto
perceptível do acaso

na demonstração o fato
se multiplica em esquecimentos.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

RESPOSTAS

Quando me perguntam
se nada vale a pena
costumo responder

sempre há o que lembrar
nas sextas-feiras

após os demais
irem dormir
seus sonhos.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 16 de setembro de 2012

ENLOUQUECER

para as pessoas
enlouquecidas
em vozes interiores

escrevo
querer apenas
ouvir
a minha voz

o silêncio constrange
desarvora
apavora.

(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS, XLII)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

IMITAÇÕES

Sobre os animais pouco diz
                   imita suas falas
                 imita seus gestos
     dorme sobre a pedra
     dorme sob a casa
           corre em direção ao seu dono
                              morde o seu dono
                                   trai o seu dono

sobre os animais conta histórias
de tempos anteriores: justifica
os atos praticados

              amarrado pelo pescoço
              é deixado junto à porta.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

REFLORESTAR

Refloresto a vida
em arbustos
que não impeçam
a visão da vinda

a luz incide
sobre a calçada
onde passeio

a escuridão da pedra
tomada pelo centro
inibe o reconhecimento
do trabalho feito
para o sustento

a vida reflorestada
em significados
concretados ao meio
onde vivo.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

COMEÇO

Vasos: meros apetrechos
de povos inaugurais da arte

mulheres moldadas
repetiam em barro
a renovação

a espécie em que a terra
fornece sua força e a recupera
em plantas repartidas

as mulheres emolduradas
em cavernas sabiam
da terra retirar o alento.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 8 de setembro de 2012

FALAR

Desligo a tela
o silêncio obscurece a sala

o lado principia
a fala onde me calo

no todo percebo
o não entremeado

atento ao sentido
percebo a luz: encaminho
o corpo ao descanso

o lado ao lado
prenuncia a tela descolorida

verdade seja dita: no antigo continente
pássaros ressurgem em telas desligadas

todos os lados presentes
falam ao mesmo tempo.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SOPRO

Pelos séculos lembrada
a pedra permanece imóvel

dentro, o sopro trazido
não realiza sua troca

por milênios não lembrada
a pedra permanece à espera do contato

dentro, o sopro se desfaz
em gases aprisionados

pelos tempos desconsiderados
a pedra permanece ao alcance do toque

dentro, o sopro se reserva
no direito de ficar

pelos instantes contados em horas
a pedra permanece enquanto pedra

dentro, o sopro do corpo
é mensagem que sucumbe à água.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

FIBRAS

O animal se adianta
ao grupo

cheira o inerme corpo
indisposto no caminho

reconhece o gosto
ataca
e repele o grupo
de onde se destaca

o animal satisfeito
se retira

         o grupo
busca nos ossos
a última fibra.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 2 de setembro de 2012

ESCOLHAS

O retorno materializado
no encontro da bifurcação:

        repete as decisões
        em sentido oposto

reencontra a decisão alternativa
onde se reporta ao lado oposto

unifica os lados
e volta ao início

                vive
                ou morre
                     nasce
                     ou morre

no retorno: reencontra o espaço
desperdiçado em escolhas
e o recolhe ao contato
com que o útero
frutifica a espécie.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

AMANHÃS

Amanhã
não me farei
presente

a viagem rancorosa
dos navios mercantes
levará a carga
ao desatino

mares navegados
em águas sujas

bares visitados
em sujas águas

amanhã não direi
presente à chamada

a viagem ressurgente
enviará flores
ao destino.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

DESCOSTURADO

Descosturado: a sina do espantalho.
Riso de pássaros descompromissados
com as regras estabelecidas aos anteriores.
Imóvel, repete na imobilidade os gestos
conhecidos onde a vida atravessa
as razões dos sentidos obrigatórios.
Refém, na roupa e no chapéu repete
a cena do que tarda a se locomover.
Espetado, sofre as consquências de estar
presente e se ausentar ao todo
fragmentado do que está à frente.
Sente no murmúrio o indizível do esvoaçar
do pássaro e se surpreende em descosturas
refeitas aos ventos: o temporal assusta
os pássaros e dá movimentos desordenados
ao espantalho sorridente.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

EXTREMOS

Dos extremos
       pensa: começo e fim
             alcança: origem e desconhecimento
             acrescenta: fora e dentro
             integra: acima e abaixo
             desdiz: sim e não
             explica: cedo e tarde
             jura: deuses e demônios
             antecipa: ontem e amanhã
             simplifica: vai e volta
             radicaliza: ama e é amado
             consegue: aparece e desaparece

a mágica convive
                nos extremos
e os traz ao centro
condensados em hoje.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 25 de agosto de 2012

BUSCA

Cessada a busca
bússola indiferente ao rumo
permanece em seu mundo
interior

descolore as luzes
com que os dias
se apresentam

guarda o cinzento
espaço antecedente
ao espírito desacompanhado

fechada a casa
do lado de fora
permanece à espera.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

TEMPOS

Reclama os desfazeres
exige o cumprimento do termo
redigido para ser feito
ontem antes da hora

invade o texto e o declara
culpado por não estar pronto

reclama da velocidade
com que sua vida
passa e vai embora.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

HISTÓRIAS

O discorrer fragilizado
do embuste: verdade
declarada no feito
não acontecido

refaço no trato o tom
lamurioso do esteta

proíbo ao interlocutor
afirmar verdades
desproporcionadas

(a história considerada
 em sua oficialidade).

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 19 de agosto de 2012

ESTRANGEIRO

como estrangeiro
rejeita o afeto
dispensa o fato
não alcança a razão
do encontro

o estrangeiro se liberta da terra
em andarilhos passos
se afasta
do passado
e penetra
onde se debate

no extremo
do desconhecimento

como estangeiro traz
a vida
e a morte.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

CADEIRA

Na cadeira assenta
a vida sem o progresso
denunciado: fica em casa
amuado a pensar o acento
circunflexo no plural do verbo

a parede reflete o calor
na desforra do tempo
dispensado: o corpo sentado
escuta o arrulho do pássaro
engaiolado na frente
da casa deserta

na vida o remorso confunde
o espírito e o corpo cede
ao cansaço.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

FECHAR OS OLHOS

Nos olhos fechados
insondáveis
registros da posteridade:
                    aos mortos cabe o direito
                    ao nome
                         datas
                         fotografia

a família chora a perda

aos vivos cabem os trabalhos
das exéquias e as lembranças

a perda se coaduna
ao relento: a porta
é fechada.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

PALAVRA

a palavra incessante
do sentimento anímico
                    retraída em si
                    extravasa a forma
                    na composição
                    inerente

distribuída no texto
     condensada no canto
     e no silêncio: refeita em trajetos
                           interrompe e ressurge
                           no descompasso

a palavra inicial do (a)firmamento
no grito apavorado da perda
                                 e lamento.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 11 de agosto de 2012

ÚLTIMO

Sou o último
e vago refém
do absurdo: vejo você nua
                    e ausente
                   dos sobressaltos

ser o último me remete
ao início fortuito
de estar presente: sua nudez
completada no lusco-fusco
das luzes amareladas

no último instante
lembro seu corpo
desnudado em ofertas.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

CENTRO

Seu centro
canto hipotético
da escuridão
afeita ao destino

(onde se perde
           e se encontra)

ponto lateral debatido
em verbos de racionalidade

- angustiosa maneira
  de estar perdido.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

FORMA

Busca na forma reconhecer
alguém disforme ao corpo
conhecido outrora

na grama úmida de pés
apressados reconhece
o inteiro corpo

a forma o surpreende
no que se transforma

                 e sonha a inteireza
                 do corpo abandonado.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 5 de agosto de 2012

APENAS

Apenas o começo
pensa o fim
no meio sobreposto
ao antes
dividido
em depois

depois pensa
o tormento
da véspera
indisposta
em dias subsequentes
de horas em agonia

(a lembrança embota a vontade
 da liberdade: concretiza o passado).

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

METAMORFOSE

Ao se reconhecer
ultrapassa a forma
inicial: decresce ao sabor
das mãos que amoldam
as faces. Afasta o cinzel
e a pedra atravessa a hora

ao espelho oferece a imagem
que o transforma em nova
forma transitória.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

TECER

Com as mãos
tece
do tecido
corta a peça
da peça
costura a roupa
que veste

vestida esconde o corpo
que sua mão
tece.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 30 de julho de 2012

DEFINIR

Da palavra não escrevo o nome
encontrado no dicionário

          (desgastado nome
           por todos conhecido)

escrevo o nome sob outro nome
encontrado em dicionários

           (desgastado na formulação
             original)

junto os nomes: original
                          emprestado
            em novo significado

            (agastado ao dicionário
             em significação)

os nomes são renovados
até que tenham o conteúdo
em único nome

            (na simplificação
             do dicionário).

(Pedro Du Bois, inédito)
      

sábado, 28 de julho de 2012

VIDAS

Devasso homem
de cabelos brancos
estaciona o carro
no lugar escuro
              confessa ao dia
em nascimento
o tormento de haver
passado a noite
entre ruas vazias
de sentimentos

olha o dia amanhecido
e o choro o deforma
em criança.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

TRAJETOS

Rápido
o foguete
some da minha vista

avisto o espaço
branco da passagem

pelo rádio o astronauta
              transmite dados
sobre o vazio da viagem

busco as razões
da jornada

fecho a janela
cerro a cortina
desconecto os cabos

no escuro do quarto
sei da trajetória.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 24 de julho de 2012

FERA

Pelas razões de estar sentado
escrevendo fatos não acontecidos:

     na mão a serpente envenena
     o hábito em que me escondo

dos encontros
nos caminhos percorridos
em estradas entreabertas
ao castigo: a fera domesticada
em anos de entregas
retorna na irracionalidade
do corpo desperdiçado
no bote da serpente: nas razões
das palavras escritas na hora
                   da despedida sinto
o cansaço da fera e sua revolta
em grades: feras nos elementos
                  insanos do presente.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 22 de julho de 2012

ÁGUAS

O barulho da água
na limpeza do rosto
       ecoa pelo ralo
       desce pelo cano
       armazena em tanques

nossa sujeira
nosso cheiro
nosso perfume
nossa parte lavada do rosto

a água apodrece na referência
do que somos por instantes.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

TEMPOS

Observa o tempo
marca o personagem
guarda o tempo
planta e colhe

frio
e calor

noite
e dia

esquece os deuses anteriores
e se distrai entre calendários

onde o gado nasce
onde a hora passa
onde a criança cresce
e o velho morre

reserva a data em que rememora
o tempo livre da caminhada.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

APOSTAS

Aposta sua sorte
no azar da resposta
dada ao destino

dados rolados sobre o verde
avançam sua vida destituída

a utopia expõe o precioso
metal desvalorizado

sua sorte fortuita em gestos
desmesurados: hoje
                    ontem
                    o amanhã
                       entrevisto

o prêmio azara os fatos
e os desmonta em novas
                             apostas.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ESTILO

Preso ao estilo
    flutuo palavras
 afogo lágrimas
        inundo campos
destruo paisagens

retorno ao leito
onde meu corpo exausto
coberto em extremos
sucumbe ao som
submerso de estilos
e vontades: livre do estilo
                   me conforto.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 14 de julho de 2012

RITOS

Atravesso a ponte
na água solto as amarras
desço o rio
          amarrado ao bote
          que destroça

sob a ponte
ultrapassada

retornam pedaços flutuantes
e bóia o corpo encharcado
enquanto a ponte permanece
                             intacta.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

TERRAS

O mar atravessado
circula a terra conhecida

portos encontrados
acolhem corpos fixados

ao futuro dedica o brinde
da chegada: presente
no instante  aterrado

o mar repele o corpo
do afogado: cabe providenciar
pássaros que o bicam
em ossos estalados

ao futuro cabe o agradecimento
representado na terra continuada.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 10 de julho de 2012

PRISÕES

Após o primeiro cárcere
diminuto em metragem
vislumbro o próximo
ampliado em significados

o infindo horizonte
desenha a cela
onde trancafiado

o telescópio demonstra
em imagens a certeza
de ser prisioneiro

acelero minha velocidade
de deslocamento: entre celas
                             faço de conta
                             estar livre.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 8 de julho de 2012

ODISSEIA

O trabalho enfeita
o espaço: a nave
                circunda o mundo
                               conhecido

o astronauta sabe do retorno

                  suas pernas
                  doem na liberdade
                                corpórea

o tempo
cessa a passagem

                    o astronauta
                    - ínfimo personagem -
                    desliga o texto
                                 o ar
                                  a luz
                                   o contato

sobre o trabalho feito
repousa o personagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

PASSAGEM

No vigor dos anos passados
em branco
      esquece o corpo
      aos cuidados amorosos
                     das manhãs

ao homem envelhecido
de saudades sobram imagens
opacas de mulheres

o branco dos cabelos
sentencia o olhar
esbranquiçado
das amantes
      (desconsideradas)

o homem idoso
desconsola o corpo
em memórias.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

SONHOS

A lembrança
encanta: decantado mundo
inexistente do passado

(a fulguração da cena
desconcerta: música
paralisada ao ouvido)

diante do quadro estático
se destaca

se adianta ao tempo
e perpassa

(a desfiguração do corpo
contra a luz)

restitui a lembrança do esquecido
gesto não realizado: nos sonhos
a incompreensão dos fatos.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

SIMPLES

Simples questões não respondidas: de quantos
Passo Fundo fomos feitos nessa geração
efêmera. Os que foram embora,
os que ficaram, os que retornaram.
Aqueles que se recusaram.
Os que morreram.

Passo Fundo nos reconhece e atrai. Impõe
e dispõe no espaço ampliado dos caminhos:
o boqueirão aberto ao passo, o cemitério
ultrapassado, o sexo reavido ao acaso.
Antigas estradas e territórios cedidos
em concordata. No desmembrar
permanece como história
e mentiras amenizam
os fatos encobertos.

Simples quesitos impostos a cada um de nós,
do Passo Fundo remexido em praças
transplantadas, prédios demolidos,
passados desfeitos, antigos feitos
desconsiderados.

No Fundo, o Passo alivia a fuga
e o corpo se volta no passar do ônibus,
curva-se ao avião que sobe, recusa-se
ao trem inexistente.

Questionário incompleto, repleto.
Reflexo da imagem nas águas
impuras da praça.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 30 de junho de 2012

SENTIDOS

primeira dobra: o dobro do conteúdo
dividido em ares de montanhas
e nos passos rápidos das fugas

segunda dobra: o escopo esconde
a vontade atávica das conquistas
e diz ser a imagem da batalha
pintada longe na descoberta
natural das sensações vazias

terceira dobra: acalma o espírito
na incerteza da conclusão da obra
no sabor do tempo concorrido

quarta dobra: apreende em abraços
a amante e a retira da vida permitida

quinta dobra: o texto desconexo
adquire forma definitiva nas entrelinhas
e percebe a natureza conduzida ao ócio

última dobra: na sexta etapa conclui
a obra no delírio das implosões
em que se liberta de seus medos.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

DAS NECESSIDADES


Acalento o sonho desnudo
                             do profeta
                             e repouso
                                   aos pés
                                   do cruzeiro

no sul
     ouço o vento
transeunte e o branco da neve
depositada em espécie
           ulterior ao frio

do nada retiro a certeza da crença
e professo desabalada maneira
de me fazer assim

                   no infinito deposito nomes
                   na sagração do antes: pão
                   consagrado na mesa
                   imemorial do homem

(posso - pudesse - acender as luzes
                                           e ver).

(Pedro Du Bois, inédito)
             

terça-feira, 26 de junho de 2012

JOÃO BEZ BATTI

Obtém na pedra
a coloração inercial
do universo

(maneiras diversas
 dos olhares: sangue
 não coagulado da donzela
 oferecida ao sacrifício
 de estar viva: indomada)

raspa a entranha e a delimita
no estrito dever de ser pedra

apedreja a mão que a escala
em réguas: libertam o veio
indelével dos amanhãs

as cores se fazem apresentáveis aos olhos
menores dos interlocutores: palavras
soam porosas em elogios - o bastante.

(Pedro Du Bois, A LEVEZA DO TRAÇO, Edição do Autor)

domingo, 24 de junho de 2012

HÁBITOS

Hábito arraigado: letras coloridas
sobre o fundo (branco) do papel:

     o reverso do poeta
     na profetização
     incolor do horror
                 em se saber
                 encontrado

palavras traduzem o encontro
do papel encarregado pelo voto
de trazer sobre o fundo (branco)
a mensagem colorida

            todo hábito
            se refaz
            em abandono.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

AINDA, MURILO

Tenho na compreensão do instante
                       o bastante
                       desnecessário
                       ao encontro
         
           tenho no intante a incompreensão
           do pranto
           no espanto
           com que vejo
           o bastante

são palavras, dizem os silêncios
são silêncios, escrevem as palavras

                o bastante do que tenho
                no desnecessário instante.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

HOJE

Hoje, tempo obscuro, nada além
de traje de banho: a lama
rejuvenesce a face e alisa
a pele endurecida pela idade.
Não torna eterna a feição da fera,
nem faz da continuidade a época
na realização eficaz da peste.
Hoje, tempo obscuro, fechado
à frutificação da espécie,
nada use além da espera dissoluta
da plateia embevecida pela estrela
menor de camarins feéricos: palcos.
Tempos obscuros, templos inseguros
para a idade: nada além da estratégia
de ser o rei da pantomina e o irregular
esteta. Hoje, tempo obscuro, para a mão
que talha em pedra o destino.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

AMORES ENSOLARADOS

I
Há sol - energia suficiente - e o dia
se apresenta quente: solo montanhoso
indiferente ao clima áspero da planície

II
toldo a luz em cortinas e me deposito
sobre a cama: ainda não são horas
de labutas - o repouso permanece

III
os sons da rua me são percebidos:
economizo os que tenho suficientes
ao propósito de me fazer preso

IV
sei sobre o tempo - que desconsidero -
e da precisão de me fazer inteiro ao dia

V
uso de artimanhas: dias se alongam
em compromissos e meu amor dorme
em sumiços: o corpo permanece

VI
há sol e mesmo que não veja sua luz
me indireito na cama e observo a espera
em retirada: amores são assim (quase nada).

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

FUNDO

O fundo do mundo
(espaço intergaláctico
 desprovido do humano
                                ser)

acontece no contato
com a espada

(o escuro da matéria: imaterial
 escudo na proteção do espaço)

empunho a espada
e luto: a luta acrescenta
a ilusão da farsa

(invento o espaço discordante
 entre o aqui e o longe)

de que o mundo no fundo
ostenta eventos felizes

(felizes como os consideramos
                                          aqui).

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

ORFANDADE

Nascido órfão
na posteridade
da espécie
          entendo a solidão
          do espaço
            vislumbrado além
              da salvação

(que espécie órfã é capaz
 de criar a sua salvação
 e matar na continuidade
  da culpa?)

nascido órfão
me digo só
em sacrifício.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 10 de junho de 2012

SURPRESA

O elemento surpresa onde se escondem
as mudanças. O estertor com que  fogo
queima o estrado e o preso se arrepende
em novo ano. Não reconheço a espera:
                       o esperto acreditar
                       no futuro: o inexplicável
                       alvoroço do cão: o amargo
                       da vida na ilusão passageira
                       do amigo. Folgo em me colocar
contra a janela: inocento o suspeito. Suspeito
de outras eras: chego sem ser anunciado.
Desdobro a canção dos horrores
consumidos em preitos
                    panelas
                e tigelas. O elemento
e a presa na hora em que o circo
pega fogo e o mundo se desmantela
no imitar do bandido ao espoucar
da pipoca: a chave em giro
mecânico na porta.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

IMAGINAR

Construo a imagem
ao arrepio do espelho
a lâmina assusta
o rosto que se desfaz
em gritos ante o dia
que se abre ao mito

       minto cada leve dobra
       do espírito: aumento
       a expressão e o riso

o espelho desmente
a impostura do porte

em dinâmico gesto
destrói o sonho
onde me encontro

     contruo outro corpo
     e não me arrependo
     na informação errônea
     da identidade: quebro
     o vidro e ao lado vejo
     que a estrutura mente.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 6 de junho de 2012

CONFISSÃO

Ao pássaro confesso minha incerteza
 ao pé do ouvido grito meus pertences
e o preço pago em cada compra: vendo
a alma em desavenças. Calo
a inconsequência do canto.
    Ao pássaro não ofendo o silêncio
    em alardes frios de sofrimentos:
              o ninho por manter
                 a cria por alimentar.
                                       Incerto
     encaminho a voz ao segredo
revelado em poucas palavras.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

EM LIBERDADES

Como me visito na liberdade onde fujo
ao extrato - estrito senso da razão -
aventado sobre flores
                    guerras
               saudades
e manhãs explícitas: o sexo carnal
descarna o corpo no arrepio final
do gozo: ânimo revisto
no pranto do menino - por isso
me visito em liberdades tardias
                juventude embalsamada
                rito fúnebre contratado
liberdade desconsiderada no jogo
da apatia
     simpatia
     a alopatia remedia
o gesto (ainda) preso: o peso
dos anos condenam ao suplício:
de onde retirar o fragor da batalha
                        o fulgor da hora
flores despetaladas rejuvenescem caminhos
em dias santificados de obrigações imemoriais
em estranhos sonhos: visito-me na liberdade
de colher frutos amadurecidos: tempo
oferecido em perdas entre grades.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

PRESENTE

Sou visita e residente

passado aparente
em nova visita
e o de sempre

o mesmo: quem
conhece o caminho
entre o quarto
         e a cozinha

vida renovada
na morte persistente

a oração em sofrimento
na brisa mensageira
da notícia

o de fora e o de dentro:

                  filho
                     pai
               marido

esquento o trabalho e saio
                             passeio
               troco de lado
e me escondo em periferias

quem vem de longe
para ver a família.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

ANTES

Saber da excelência
a véspera
                 antes o desdouro
            nasça e se faça fonte
ao jazer na espuma ocidente
a lâmpada apagada dos ex-amantes

barcos aos cais anunciam
atracar em portos
        desacostumados na avalanche
                    marítima das verdades

 no dia anterior barulhos cessam
e na voz a surdez exala o poente.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

TÂNIA

Saio: a rua conhecida me acompanha
no trajeto decorado em portas abertas

sua casa me oferece o tempo
necessário ao convencimento

caso o corpo no corpo
oferecido: na unidade
reside o esforço
da multiplicação

a rua inconclusa avisa
sobre a próxima quadra:

          passo após passo
          afasto minha sombra
          e sua casa contém o trajeto.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 26 de maio de 2012

RECONHECER

Não reconheço no recibo o nome
assinado como depositário: minto
nomes ao contento das obrigações
diárias e os espalho em documentos
inconsequentes: não tenho nome,
sou objeto indireto na história:
desnomeado avesso ao contrato,
nome desdito no cumprimento.
O nome ao chamado feminino.

Como ser chamado pedro ou paulo.
Como ser antônio e pedro ao mesmo
tempo. Como ter sido lino e alfredo.
Como lembrar adão, sylvio e pedro
novamente escrito no papel oficial.

Recorto e colo outro nome
sobre o nome do documento: pronto
ao dia do chamado. A todos, atendo.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

CENA

O retrato implica em conhecer
da rosa
      o perfume
do rosto
     a imagem

o detalhe amplia
as transformações: olha com os olhos
                         do dia em que a câmara
                         explode o instante da abertura

o retrato acoberta o que guardo
e me distraio em dias alternados
ao presente: fosse hoje o sorriso
extravasado no tempo
                  depositado

hoje é o dia alternado
de não rever no retrato
o perfume e a imagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

OLHAR

Sobre o que conversam
nossos olhos
            na certeza
       do olhar
       reforçando os laços

nos olhos as conversas
combinam passagens

       e se fecham
       em silêncios.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

SER

Como foram os pássaros
antes das asas e da vontade de voar

como fui antes do tempo
dedicado ao medo de servir

servo na massificação
acredito em salvaguardas
e nos guardiães do outono

de porta em porta abro o futuro
e a luz de intensidade finda
apura minha visão ao fora
do controle abissal do medo

sei que há a mão estendida
no lado de fora: estou no interior
do nada e a grade pesa
ao ouvido em ameaças.

(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS, XXVIII, revisto, Ed. do Autor, 2005, 2a. Edição)

terça-feira, 15 de maio de 2012

A MÃO QUE ESCREVE

A mão escreve o mote
junta em versos
palavras esparsas

                     dispersas

quantos poetas fazem
cem anos neste ano?

nascimento
       primeira obra
       primeiro prêmio
       primeira morte

a mão esconde o chicote
com que trata as letras

                  dispersas
         esparsas entre versos.

(Pedro Du Bois, A MÃO QUE ESCREVE, 1, revista, Ed. do Autor, 2005)

domingo, 13 de maio de 2012

DOMINGO

Somos vistos
no bater dos tambores
e na aguda voz
somos vistos
no lado intermediário
e no ansioso grito do pássaro
somos vistos
na abraço do filho que retorna
e no navio que longe atraca

somos vistos
como quem preenche os vazios
e lava suas roupas na beira dos rios
somos vistos
exemplares pais de famílias
e tempos de profanos amores
somos vistos
e de nós dizem parte da verdade
e da grama que cobre nossa campa.

(Pedro Du Bois, A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS, Os dias indiferentes, Ed. do Autor, 2006)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O NOME IGUALADO

Sou menos que o nome disposto
na aventura. Arbusto enraizado
na área cercada em arame.
A farpa da madeira interposta
na igualdade: entre você e eu
                       repousam nomes
                       desmerecidos.

Igualo a impronúncia da palavra
e me afasto em ângulo:

                  corpo e alma
                  carrego a essência
                  e a transcendência
                                 permitidas.

(Pedro Du Bois, A PALAVRA DO NOME, IX, 1, Edição do Autor, revisto)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

SENHORA

A senhora descreve o arco
                  persegue o soneto
                  rápido em formas e rimas

pobre poeta que trabalha
na escolha do tema
e na perseguição
              da rima

a senhora vem sobre as palavras
(dirigível em chamas)
e queima os versos

atravessados e carcomidos
ao sabor - e desgosto - da senhora
                 desdenhada ao texto.

(Pedro Du Bois, LIBERDADE (ELAS), l, Edição do Autor)

domingo, 6 de maio de 2012

Brevidades - comentários

por favor, acessem:

http://www.umacoisaeoutra.com.br/literatura/dubois.htm

http://www.onacional.com.br/colunistas/gilberto-cunha/post_id:3440

http://www.onacional.com.br/colunistas/gilberto-cunha

agradeço.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

SOLIDÃO

A solidão exemplifica
o crime: a desigualdade
invade a calçada e me atropela:
ouço o tropel do cavalo
não alado - marmóreo -
em estátua produzido;
no alcance da poeira
o riso se faz esgar
e o cavaleiro - rosetas em pés -
me achincalha. A minha solidão
se solidifica e do extremo gesto
recomeço na busca do instante:
conto dias de regressos e a luz
da pergunta repete o crime:
desço do cavalo em grilhões
e o buçal rasga sua boca
de enfurecida fera: espero
a esfera girar sobre o todo
e o crime se consuma em guerras
alteradas em notícias de jornais.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

COMPRAR E ALUGAR

Tudo o que for comprado ao destino
se desatina no uso imediato: a nota
indica o preço fiscalizado da ousadia
em estar vivo. Avivado, retira o objeto
do pacote - abre o invólucro - e o reduz
ao nada. A desatinada via dos encontros
dispensa compras e vendas. A vida
alugada ao acaso reserva a surpresa
do atraso no findar do risco que ocorre.  

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

COBRANÇAS

Não me cobrem a medalha
a honra
o mérito
a encoberta história
mal contada

cobrem o enredo da teia e da rede
de pesca o peixe semi-morto

cobrem o óbolo roubado ao cego
e ao cão cegado na escuridão
do inferno em outros nomes

cobrem o óleo espargido ao acaso
e o fogo consumido aos poucos

não me cobrem a medalha
exposta em glória: na especificidade
o orgulho se desnuda
e aos lados afloram
anos continuados

cobrem o álcool derramado
na contagem final da cena.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 28 de abril de 2012

SENHOR

Senhor das batalhas, cede ao encanto
da terra molhada: para o corpo
e recupera da relva a calma
em que foi criado; batalhas
inibem sonhos inventados em anos
verdes de conquistas: anos de descobertas
anímicas e de cansaço físico de prazeres

tanto a batalha vencida
no grito e no tinir da espada
ao tiro longínquo do canhão
da esquadra, ao quanto
envelhecido nas jornadas,
ao inverno ressecado na terra
abandonada, quanto aos túmulos
indesejados dos amigos, ao céu
descolorido no fim da jornada

cede ao encontro da terra jogada
sobre o corpo.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

CHUVA

Sobre a chuva
na sensação da vida
conduzida ao indelével
estado de nobreza: não
nobiliárquica no pressuposto
do poder e do medo atávico
soubesse a origem da nobreza
estéril nos entreatos onde
o nada produz o gesto vazio
da espera. A chuva é a espera.

Pedro Du Bois, inédito

segunda-feira, 23 de abril de 2012

LEMBRAR

Mnemônico
guardo o restante:

          alimentações se repetem
          em necessidades.

 (Pedro Du Bois, inédito)

Brevidades, o livro

Meu novo livro de poemas, Brevidades, editado através do Projeto Passo Fundo, mantido por Ernesto Zanette, foi lançado em Passo Fundo (RS)na tarde/noite de 19.04. Na dedicatória - para Tânia - escrevo que: Por instantes o encontro se consuma: sou eu que descrevo e escrevo sobre a efemeridade em que me (re)conheço. Seria assim, não fosse apenas um poema a dizer da brevidade do pensamento e dos atos cotidianamente abstraídos em minha vida. As afirmações soam perigosas, mas não posso fugir aos itens elencados. Por isso a procura dos pontos que me sustentam, mesmo que – como sempre – transitórios em sua literalidade.

sábado, 14 de abril de 2012

OUVE

Ouve, sou o som anterior,
o refrigerador arrefecido
na temperatura ambiente,
o fogão cozido no estrago.

No estrado o pé faz
o passo no voo do pássaro.

Ouve em mim o antiverso
das palavras: a sagração da hora
na repetição do grito das crianças
no linguajar dos entendimentos.

O rádio ligado na canção rouquenha.

Ouve em mim o estalar dos ossos.

Maneira de me fazer átono,
de me dizer átimo, de me ouvir
em último recado.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

AMAR

Se a hora é cedo
                   cede ao contato:
                   corpos se aquecem
                   e o tempo arde

na tarde dos arrependimentos
sabe, sobre o que foi dito acha,
do encontro lembrado pensa
em se desvencilhar do fardo

               sendo cedo: concede
               ao tempo o encontro
               satisfeito dos amantes.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 10 de abril de 2012

ABSORTO

Passa absorto. Absorve a lama
endurecida dos recados. O recato
                   na mulher despossuída
                   em corpo ainda jovem

                   epopeia não ouvida
                   no relato. O realejo

toca miscelâneas de proveitos
e peixes absortos repousam
                            no aquário.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 8 de abril de 2012

CORPO

Acorda sua vida
uma vez mais

única razão
para ser presente

na ausência futura
deixa dormir
o corpo
sobre o leito

o defeito o transforma em mera referência
de tempos idos: fantasma esmaecido
em bruma de desconhecimento. Corpo
sobre corpo abre os olhos e diz
do sofrimento em não ser lembrança

único corpo sobre a cama
e esse corpo dorme.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

NASCIDO

Nasço desterrado.
Nenhuma janela
se abre ao interior
              do quarto.

Sou do ventre o livre despertar
do corpo: a água quente
me lava em espinhos.

Sou ilha isolada no mundo
dos subterfúgios. No olho
do pai o brilho avermelhado
do outro mundo. Em minha
mãe antevejo a razão do medo.

A guerra terminada me impele
ao continente. Nu o corpo apreende
o raiar do dia.           A pedra sorve
    a quentura escondida em roupas.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

SONS E SILÊNCIO

Nenhum silêncio
profetiza o tempo: grito
saliente da vida inconsumida
no renascimento

aqui na crença e na confiança
afeita no milagre
da multiplicação do som

nenhum som prediz o tempo
do silêncio reposto
sobre o tampo.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

TARDE

Nada espero da tarde
         o anoitecer (manto)
         mente sofrimentos
         nos encantos (tantos)
perdidos após a hora:

              manhãs iniciadas
         frias em após auroras
         desconhecem as luzes
         do impedimento: crescer
e se fazer tarde (passagem)
                em lamentos.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 31 de março de 2012

ARMAS

Reponho a arma
deponho a raiva
o medo sobressalta
o corpo: treme em fracasso

guerreiro despido reflito o espelho
alterado: imagem insolente
da batalha desguarnecida

           oca arma repousa
           sua imaterialidade.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 29 de março de 2012

QUESTÕES

Em razões irreais
busco na essência
da questão o alvoroço
das respostas

faço a tolice de me dizer alerta
e do âmago da vida
- amargo discurso -
quero a solidez da palavra
em circunspecta frase

avanço as mãos sobre o corpo
desnudo e refaço a importância
da luta: ao lado repousa outro
corpo adormecido. O corpo frio
das entregas insones. Na irrealização
dos aspectos confusos das respostas
a inexistência da questão me transforma
em ruína e cadáver.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 27 de março de 2012

DIFERENCIAÇÃO

Heróis inexistentes simbolizam
           glórias não alcançadas
           pela divindade obstruída
           na condição terrena

heróis mundanos conservam
da divindade a ânsia
de etéreas transfigurações
dos deuses destituídos
da glória inalcançável

desfeitos em remediadas vidas
gestam arremedos de redescobertas.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 25 de março de 2012

PARTIR

Quando parto na imensidão do microcosmo
me faço longe em desalentos; partidas quebram
correntes e me impelem além dos remos; ramos
esgarçam a árvore desnuda no solo, seco. Eu
na última volta do acaso me faço calado ante
o espetáculo do corpo suado ao luar; viagens
soam invernais trajetos de encobrimentos,
mãos umidecidas do trabalho guardam bolsos
descosturados: partidas me apanham de calças
curtas no aroma indefinido da criança além
da criação, impaciência. Sou o último a ver
o esboço se perder; partidas orientam
desvarios onde razões perdem o magnetismo
e a terra roda ao contrário: avistado na entrada
me faço raivoso. Estou presente no esconder
o sentido da ausência; a partida pressupõe
o adeus não amanhecido; altar vazio,
armário esvaziado, o viver
apagado da lembrança.

(Pedro Du Bois, inédito)